7 de set. de 2010

" Poesia, além de feijão com arroz", diz Maria Bethânia


Junto com o arroz e o feijão, poesia. É como Maria Bethânia imagina que deveria ser a cesta básica do brasileiro. “Não dá para viver no seco, sem nada. Acho que deveria ir não só poesia, mas coisas que abrangem o poético. Sem isso, fica muito frio.” A resposta à pergunta sobre a utilidade da poesia veio ao fim do ensaio geral/estreia para convidados do espetáculo “Bethânia e as Palavras”, que a baiana apresenta no teatro do Shopping Fashion Mall, no Rio de Janeiro. Na plateia de 470 lugares, lotada, estudantes de uma escola pública da Rocinha, favela vizinha ao shopping, integrantes do grupo Nós do Morro, do Morro do Vidigal, também perto dali, professores, amigos, amantes de poesia.

Estava no ar o deslumbramento com trechos de Fernando Pessoa, Manuel Bandeira, Vinicius de Moraes, Eugenio de Andrade, Paulo Leminski e muitos outros, textos de Guimarães Rosa, Clarice Lispector e Ferreira Gullar, além de citações de canções brasileiras (de Dorival Caymmi, Caetano Veloso, Gonzaguinha, Chico Cesar, Beto Guedes, Roque Ferreira) - tudo dito sem que se fizesse distinção entre escritores e compositores, ou o "erudito" e o popular. O encantamento de Bethânia era compartilhado por quem estava na plateia, o que os aproximava. Tanto que, terminada a apresentação, dezenas de pessoas se sentiram à vontade para saudá-la junto ao palco, pedindo-lhe fotos, beijando-lhe a mão, fazendo carinho em seus cabelos.

"Bethânia é uma pensadora. Desde 2005 trabalho o repertório dela em sala de aula", saudava a professora de filosofia Vania Correia Pinto, que levou 150 adolescentes do primeiro ao terceiro ano do Ensino Médio de uma escola pública da Barra da Tijuca. No grupo, estava Fernanda Rozelinne Ferreira, que aos 15 anos se diz leitora de Olavo Bilac. "É difícil de ler, mas eu gosto. Também adoro Cecilia", contava, demonstrando a devida intimidade. "A vontade que dá é sair daqui e ir para casa ler poemas."

Era o que Bethânia gostaria de ouvir. Ao pisar o palco, descalça, como gosta, ela já reconhecia que o momento que vivemos, por sua velocidade e superficialidade, não é propício à poesia. "Mas é um desafio que me comove", esclareceu, para rapidamente emendar nos versos de Comida, dos Titãs: "A gente não quer só comida/ a gente quer comida, diversão e arte". O espetáculo corre como seus shows, sem pausas: ela emenda um texto no outro, ora tendo uma música no meio (é acompanhada pelo violonista Luiz Brasil e o percussionista Carlos Cesar), ora conversando com a plateia.

DEZ TEXTOS DE PESSOA

Depois de recitar Nestor de Oliveira, seu professor de português na infância, em Santo Amaro da Purificação, contou: "Em suas aulas, aprendia-se a ler poesia Caetano, também seu aluno, musicou esses versos. Tudo isso aconteceu no interior do Brasil, no Recôncavo Baiano. Eu falo isso para mostrar que é possível uma educação de qualidade nas escolas públicas do Brasil".

O roteiro tem 69 trechos, entre textos falados e cantados. Dez são de Pessoa, o poeta dileto, ao qual Bethânia tece as maiores homenagens. O ponto de partida do projeto foi a série de convites que ela recebeu, ano passado e neste, para fazer leituras em instituições de ensino. Se Portugal é evocado nas palavras de "O Tejo É Mais Belo" e "Marinheiro Sem Mar" (este de Sophia de Mello Breyner Andersen), o sertão brasileiro aparece nos caipiras e imagens religiosas de Renato Teixeira ("Romaria") e de Luiz Gonzaga ("ABC do Sertão"), e nos devaneios de amor de Riobaldo por Diadorim (de "Grande Sertão: Veredas", de Guimarães Rosa).

“Bethânia e as Palavras” estará em cartaz no teatro do Shopping Fashion Mall, no Rio de Janeiro. Os ingressos, a R$ 80 (sextas e domingos) e R$ 100 (sábados), estão acabando. Para o ano que vem, a cantora pretende tocar com o antropólogo Hermano Vianna - responsável pelo roteiro, junto com o ator e diretor Elias Andreato e ela própria - um blog sobre literatura. (AE)


Leia agora o que ela falou a O Globo sobre o " Brasil de hoje"
“Sou brasileira. Responsável e séria. Por isso mesmo, me zango muito. E cada vez que vejo essa palhaçada, essa mentira, esse Brasil virtual, poderoso, paraíso, fico gelada, porque parece que a gente é maluco, mas não é. (…) Esse Brasil que é anunciado todos os dias, maravilhoso, melhor dos melhores, que vai ser o maior produtor de petróleo do mundo… Gente, dá um tempo! Veja um pouquinho mais de perto, chegue mais perto.. Está tudo muito longe, desfocado, um paraíso que eu não consigo ver daqui. (…) Não gosto de ser tratada como imbecil”.

Um comentário:

Anônimo disse...

O texto é cópia de outros sites.
Ou os outros copiaram de ti.

http://www.diariodecuiaba.com.br/detalhe.php?cod=378465

http://www.estadao.com.br/estadaodehoje/20100904/not_imp605055,0.php

http://ronaldofranco.blogspot.com/2010/09/junto-com-o-arroz-e-o-feijao-poesia-e.html

Não estou criticando teu trabalho. Apenas é preciso ter cuidado com esse tipo de coisa porque ficarás à mercê e te igualarás a "jornalistas" que copiam tudo, aqui mesmo em Belém. É só ver as páginas de turismo e as que falam de vinhos, por conhecido "enólogo" - porque é assíduo consumidor de Sal de Fructa ENO.
Todomundosabe que fazer jornalismo assim qualquer pessoa masi dedicada pode fazer.