( esse é o quarto parágrafo de um texto mais longo)
No caso de Jader, esse processo de inelegibilidade é várias vezes ilegal.
Além de puni-lo por algo que não era crime na época em que renunciou, também o condena por fatos ocorridos há dez anos, cujas circunstâncias eram de simples linchamento.
Ou seja: circunstâncias nas quais inexistiam possibilidade de defesa – a não ser “abjurar”. E acabar cremado do mesmo jeito.
Ora, o que foi que aconteceu há dez anos, naquele embate entre Jader e o baiano Antonio Carlos Magalhães?
O baiano acionou os tentáculos que possuía em toda a imprensa nacional e a vida de Jader – pública e privada – foi submetida a um pente-fino raras vezes visto em todo o Brasil.
Repórteres dos principais veículos de comunicação do Brasil – Veja, Globo, Folha de São Paulo – praticamente “acamparam” em Belém.
Ao final, criou-se um “clamor popular”, como se Jader fosse a “maçã podre” do Congresso, e o baiano ACM uma espécie de “querubim ungido”.
Com isso, Jader fez o que faria qualquer um de nós que não tivesse vocação nem pra Joana D’arc, nem pra Branca Dias: renunciou.
E essa é uma coisa muito complicada na Lei da Ficha Limpa: o sujeito é punido com a inelegibilidade, mesmo sem ter sido provada a sua culpa.
E isso quer dizer que se amanhã tivermos um regime autoritário, bastará abrir processos, até graciosos, contra eventuais adversários, para que eles sejam “legalmente” banidos da vida pública.
Não, não estou a defender o Jader: ele é um sujeito suficientemente poderoso (e não estou a falar apenas no aspecto externo, mas interno: de um sujeito capaz de sobreviver a desertos) para não precisar de alguém como eu, a defendê-lo.
Também não voto nele: voto no Paulo Rocha e no Flexa Ribeiro.
E quero, sim, que ele seja punido, se comprovada a culpa dele, por tudo o que acreditamos que ele fez.
No entanto, penso que Jader – e nem qualquer cidadão – vale o Estado de Direito e a Democracia.
Se a Justiça não funciona, ou é lerda para punir poderosos, que se mude a Justiça: que o controle social intervenha, para fazê-la funcionar.
Mas fazer a Lei retroagir para prejudicar, ou condenar sem o devido processo legal, é inverter o raciocínio.
Nenhum de nós acha certo linchar um cidadão pobre acusado de roubo.
E se isso vale para o pobre, vale também para o rico: a Lei, o império da Lei, tem de valer para todos, indistintamente.
O que temos de buscar é o fim da impunidade – e não a restrição do direito de defesa ou a simples ilegalidade.
E eu só lamento é que tribunais, como foi o caso do TSE, se curvem a essa coisa de “clamor popular”.
Justiça à base de “clamor popular” não é Justiça: é linchamento.
Justiça e juízes não são candidatos a miss ou a mister simpatia – muito menos podem perfilar com a “galera do polegar pra baixo”.
Tenho esperança de que o Supremo reverta essa decisão, que não é ruim só para o Jader: é horrível pra todos nós.
E se o Supremo não o fizer, que Deus tenha piedade do Brasil.
Porque aí qualquer Hugo Chavez da vida poderá fazer das leis e das instituições brasileiras o que bem entender.
2 comentários:
Ana,vc deu um show nem seu argumentos,e que todos pensamos dessa historia, parabéns por sua lucidez política,precisamos de pessoa igual a vc no comando desse estado,com imparcialidade política-partidária,mais uma vez parabéns.
Comprovadamente, e declarado por ela, essa perereca é tucana e está "desincompatibilizada" de seu blog, para trabalhar na campanha do Játeve. O que ela está querendo é "adoçar" o Jader para embarcar na onda furada do surf da tucanada.
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