(artigo publicado no Jornal do Brasil, em 11 de dezembro de 2008)
O jornal O Estado de S. Paulo, em matéria publicada no dia 11, informa que o Instituto de Estudos de Política Econômica da Casa das Garças, centro de estudos carioca dirigido pelos economistas Edmar Bacha e Ilan Goldfajn, publica, em sua página na internet (www.iepecdg.com), um livro virtual sobre a crise, com artigos de 18 dos mais conhecidos economistas do país. Intitulado “Como Reagir à Crise? Políticas Econômicas para o Brasil”, o trabalho, organizado por Bacha e Goldfajn, reúne artigos de Pedro Malan, Armínio Fraga, André Lara Resende, Gustavo Franco, Alkimar Moura, entre outros, além dos próprios organizadores.
Sugiro que leiam a página e tomem conhecimento das propostas para enfrentar a crise dos principais teóricos do PSDB, todos ex-membros do governo FHC. A reportagem do Estadão já dá algumas pistas do que esse grupo de economistas defende para esse momento decisivo. Vamos a algumas das medidas sugeridas. Armínio Fraga alerta para o risco de se tentar um crescimento de 4% para a economia em 2009. Na opinião dele, se para a economia americana faz sentido falar em “expansão fiscal temporária”, no Brasil a situação é outra. “No nosso caso, é preciso levar em conta que há anos os gastos públicos vêm aumentando de forma pró-cíclica e focada em gastos correntes e permanentes.” Pedro Malan defende a contenção do gasto público do governo como “único caminho” para o país atravessar a crise. “O Brasil não está em recessão, nem em deflação, mas em processo de desaceleração do crescimento, que vai significar, sim, redução das receitas e, portanto, vai exigir cortes na expansão de gastos antes contemplados e não o contrário, como vem acontecendo com as contratações e aumentos anticíclicos”, diz Malan. Edmar Bacha alerta para os riscos das políticas creditícias compensatórias (pelo uso de reservas internacionais, da expansão dos bancos públicos e da queda de juros), ainda que defenda a intervenção do governo para atenuar os impactos da crise na economia. “Quanto maior controle se exercer sobre o gasto corrente do governo, maior poderá ser a expansão creditícia compensatória sem afetar negativamente as contas externas”.
Como podemos constatar, os ex-ministros de FHC e apoiadores do PSDB defendem, em uníssono, o corte de gastos. Para eles, o país deve crescer menos, não deve expandir o crédito, tem de evitar o risco de um déficit na balança de pagamentos.
Ou seja, as propostas dos economistas tucanos para enfrentar a crise vão na contramão das medidas que estão sendo colocadas em prática pelo governo Lula, com amplo apoio da sociedade. O entendimento é que devemos expandir o crédito, garantir a liqüidez, reduzir impostos, aumentar os investimentos para que os setores que não dependem de importações mantenham o crescimento (como habitação, construção civil, infra-estrutura).
O país pode e deve, como fez o governo com a redução de impostos, incentivar o consumo e estimular os investimentos, seja garantindo ao BNDES R$110 bilhões para empréstimos em 2009, seja aumentando os investimentos públicos em 0,5% do PIB, principalmente para construção civil e saneamento, e sustentando os investimentos do PAC e de suas estatais. Outra medida importante é a garantia de US$10 bilhões das reservas do país, para que os bancos possam renegociar os empréstimos externos que empresas brasileiras tomaram, desafogando assim o sistema bancário nacional para emprestar para a pequena e média empresa, evitando a falta de capital de giro e liqüidez que pode levar à quebra de cadeias produtivas e ao desemprego. O verdadeiro problema do país não é o risco da inflação ou do desequilíbrio agudo das contas externas, mas a falta de crédito e de capital de giro, que pode destruir centenas de milhares de pequenas e médias empresas e milhões de empregos.
Como vemos os tucanos continuam na contramão da história, apegados a seus dogmas e interesses financeiro-rentistas. Exatamente quando a China e os Estados Unidos fazem de tudo para evitar a recessão e o risco da depressão, aqui eles propõem crescer menos e cortar gastos, na mesma linha do BC e do Copom, não importando o risco para o país.
Artigo do Zé Dirceu.
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