19 de dez. de 2008

Segundo César Maia...
A HISTÓRIA SE REPETE!

Em 15 de julho de 1909, o Jornal do Commércio destacava a inauguração do Theatro Municipal tratando-o como suntuoso, colossal e produto da prodigalidade municipal. Falava em megalomania. O que teria sido da cultura do Rio, nesses 100 anos, sem o Theatro Municipal? Vale a pena recordar.

Jornal do Commércio, 15 de julho de 1909.
Inauguração do Teatro Municipal

"Inaugurou-se ontem o suntuoso monumento com que a prodigalidade municipal dotou a cidade. O edifício colossal e soberbo parecia uma imensa mole de granito, mármore, ouro, bronze e vidros, resplandecendo à luz branca que jorrava do seu bôjo numa fulguração que deslumbrava. A multidão olhava para o teatro como tomada de assombro ante aquela grandeza, fruto de uma megalomania e abria alas para os que lá dentro iam assistir ao espetáculo de inauguração. (...)"


O IMPACTO DA CRISE ECONÔMICA NO BRASIL! -1-

1. Comecemos por um cálculo simples, em base a uma hipótese. Se a partir de dezembro a economia tiver crescimento zero, como ela vinha crescendo trimestre a trimestre numa curva ascendente, ao se comparar essa economia que não cresceria em 2009 com o PIB de 2008, apareceria um crescimento de 2%. Na verdade crescimento de média sobre média.

2. No entanto a partir deste mês de dezembro, novos jovens chegam ao mercado de trabalho, novas crianças procuram as escolas, novas pessoas demandam o sistema público de saúde. Para se ter uma idéia, o pesquisador Marcio Porchman, hoje presidente do IPEA, mostra em seus trabalhos que para que os novos contingentes provenientes da dinâmica demográfica sejam inteiramente absorvidos, o PIB teria que crescer 4% e só a partir daí, reduziria a taxa de desemprego e reduziria a demanda de serviços públicos.

3. O PIB brasileiro terá queda no quarto trimestre, comparado com o terceiro, mas se supusermos que ficará estável e assim fosse pelo ano de 2009, o crescimento, estatisticamente, seria um pouco menor que 2%. Ou seja, quando empresários, economistas e autoridades falarem que o PIB em 2009 crescerá 2%, estarão dizendo que ficará horizontalmente parado a partir do final deste ano.

4. A irrigação financeira aleatória pelo governo não garante a melhor ou mais anticíclica alocação de recursos. Caberia ao governo analisar em base a teoria e em base aos ciclos no Brasil, que segmentos são menos afetados por conjunturas de recessão e entender a partir daí a graduação e orientar a irrigação de forma a mitigar os efeitos da crise.

5. A princípio poder-se-ia imaginar que se deva começar pelos setores afetados pela recessão. Talvez não. Ativar os setores menos cíclicos, cuja demanda é inelástica ou de menor elasticidade e partir do multiplicador deles para multiplicar a demanda pode ser mais consistente. O mercado não é um bom alocador de recursos num quadro de crise. E a irrigação pura e simples dos setores em crise pode ser um oxigênio para esses, sem impacto macro-econômico.


A CRISE ECONÔMICA NOS EEs E MMs! -2-

1. O impacto da crise econômica nos EEs e MMs dependerá da estrutura de suas economias e das economias de seus entornos. Quanto maior o peso de setores de menor elasticidade da demanda, menos impacto a crise terá. E ao contrário. Por exemplo: o Rio-Capital tende a ser mais resistente que SP - Capital. Assim tem sido em outros períodos recessivos. Certamente na expansão se dá o contrário.

2. Por outro lado, os governos municipais e estaduais poderão ou não ser agentes anticíclicos. Todos devem separar as despesas em "controláveis e não controláveis", "flexíveis e inflexíveis". Por exemplo: o serviço da dívida é não-controlável e inflexível ao mesmo tempo. Os programas descontinuáveis são controláveis e flexíveis. A folha de pagamentos é não controlável para o caso dos estáveis, mas na margem pode ser flexível. Os programas recreativos são em geral controláveis e flexíveis, mas alguns programas sociais são controláveis, mas inflexíveis.

3. Da mesma forma se deve analisar a estrutura das receitas. Os Estados e Municípios que dependem muito dos Fundos de Participação (nordeste e norte, especialmente) sofrerão mais em função do imposto de renda e do IPI. Paradoxalmente, tendo uma economia interna menos exposta ao ciclo, suas receitas dependem do que acontece com os setores mais expostos ao ciclo no sudeste.

4. O Estado de SP, por sua maior liquidez, hoje, prorrogou em dois meses o prazo de recolhimento do ICMS. Isso deu capital de giro às empresas. Mas, por uma vez e de forma generalizada, atendendo aos que precisam e aos que não precisam. Melhor seria reduzir o prazo de pagamento no calendário de seus fornecedores e com isso impactar permanentemente os setores que estão diretamente ligados aos governos. E como a resultante dos gastos dos EEs e MMs é de menor efeito cíclico, essa decisão teria um multiplicador permanente e permitiria inclusive a redução de seus custos.


OS BANCOS E A LIQUIDEZ DADA PELO GOVERNO FEDERAL! -3-

1. Muitos bancos médios e pequenos têm reclamado da forma com que os grandes bancos têm reagido às linhas de crédito que o governo federal tem aberto a eles. A princípio essas linhas deveriam ser repassadas aos bancos menores para aliviá-los de situações de iliquidez para comprar parte das carteiras, etc.

2. Mas não é isso que está acontecendo. Os grandes bancos insistem em salvar os menores, absorvendo-os. Ou seja, em vez de salvar os menores, estão querendo comprá-los e oferecendo de partida o valor atual de seus patrimônios, uns 40% menor que antes da crise. Muitos estão resistindo à venda. Mas outros só resistem aos preços e estão dispostos a serem vendidos a um preço intermediário entre o antes da crise e o atual.

3. Se isso ocorrer de forma significativa, a concentração bancária aumentará e o desemprego de bancários com ela, pela economia de escala administrativa e pela proximidade de agencias e serviços. É verdade que os clientes poderiam ficar satisfeitos por passarem neste momento para um banco mais forte, no entanto os efeitos seguintes serão negativos: concentração e desemprego.


OS SINAIS DAS FESTAS! -4-

1. Grandes empresas estão suspendendo as festas de Natal, mostrando a seus funcionários e à opinião pública austeridade na crise.

2. No entanto, empresas médias com significância no mercado financeiro têm dado festas, natalinas ou não, em demonstrações que tudo vai bem. Erro de seus publicitários. Fazer isso só passa aos atentos um sinal de fragilidade que procura ser oculto com demonstrações de alegria.

3. Nos últimos anos, os Prêmios-Nobel de economia têm tratado disso: os sinais trocados na comunicação das empresas.

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