4 de jan. de 2009

PRIMEIRO DE JANEIRO DE 2009

Quando penso no dia de hoje, no ano de 2009, nem parece que chegamos aqui. Eu tenho sempre a impressão que o tempo passa muito rápido, me surpreendo com o fato de já ser 2009.
Lembro que ontem falávamos sobre chegar ao ano 2000 e no entanto, já se passaram 9 anos. Também parece que foi ontem que eu estava chegando a Belém, e já se vão 9 anos. Enquanto escrevo olho para o meu filho, e ele já vai fazer dois anos e tenho certeza que foi ontem que peguei ele no colo pela primeira vez.
Tenho sempre esta sensação do parece que foi ontem.
Mas hoje é primeiro de janeiro de 2009. E a falta de sono me fez lembrar deste tempo passado, destes 37 anos. Ainda me recordo da árvore florida na frente da casa de minha avó, acho que um pinheiro, e de mim lá de cueca, não mais que 5 anos brincando com as folhas que caíam. Parece que foi ontem meu primeiro passeio de bicicleta pela cidade, escondido de minha outra avó. Lembro tão bem o quanto andei, o como longe fui, lembro da sombra das arvores no meu rosto, do vento e da sensação de liberdade, uma palavra que jamais me abandonou. Definitivamente a liberdade é o maior bem que tenho, sou livre por natureza, ou talvez sou livre desde aquele passeio de bicicleta que resultou em uma bronca homérica mas também me trouxe o sentido da liberdade que me acompanha até hoje. O passeio me fez conhecer a liberdade.
Ser livre para escolher meu caminho, ser livre para fazer da forma que quero, ser livre para acertar, para errar, para não ter amarras. Ser livre para largar, deixar para trás, abrir mão, jogar fora, trocar, mudar, virar, seguir reto, parar.
Liberdade. Que palavra linda essa.
Parece que foi ontem que saímos de Rio Claro de trem, rumo a uma terra que sonhava ser tão distante, lá no meio do mato, no Mato Grosso do Sul. As luzes da cidade maior ainda piscam dentro de mim.
O “prédio” que nada mais era que um pequeno edifício de 3 andares abrigou nossas performances de Michael Jackson, nossa imitação do Barão. Na garagem o banco que meu avô fez junto com a mesa virou uma primeira redação.
Uma redação que virou estúdio de rádio e TV, virava o que quiséssemos que fosse. Na frente do prédio o Círculo Militar e a discoteca. Que terror era chamar uma garota para dançar...
A violência se resumia a apanhar, jamais a levar um tiro. Isso parece que foi no século passado.
O Colégio Dom Bosco, seu teatro, sua banda de música, seu Grêmio Estudantil, sua igreja, seu coral, suas escadas longas, suas colunas enormes, seu grande pátio, as meninas chegando de saia, a excitação por conhecer gente assim, que parecia andar tão diferente de nós meninos, mexendo no cabelo, passando baton...
... ah as meninas quando chegaram ao Dom Bosco ! Sem dúvida um acontecimento em nossa vida. Nós garotos que vivíamos ali, em escola de padres só para nós de repente nos deparamos com moças. Na minha sala de 40 alunos eram sete. Sete e me recordo de todas, umas mais bonitas, outras menos, mas todas maravilhosas para nós.
O primeiro beijo no teatro, a primeira mão escorregando, a primeira vez. Foi ontem. E foi bom.
Como foi ontem que entrei no Jornal Cidade de Campo Grande da família Pinheiro. Um jornal já aquela época decadente, mas isso eu só vejo hoje. Ontem, quando lá cheguei com meus 13 anos era o New York Poste eu com minha coluninha datilografada pelo meu pai em mãos, era o Zózimo. Só de lembrar sinto um frio na barriga.
Foi ontem que segurei nas mãos o primeiro exemplar do jornal que me deixou os dedos repletos de tinta. Meu nome ali, umas coisinhas escritas e eu relendo, relendo, relendo, como se não acreditasse.
Também foi na madrugada passada que entrei no estúdio da recém inaugurada FM Cidade, no prédio da TV Manchete. Quando vejo todos tinham ido e lá estava eu com meus 16 anos só com duas vitrolas, um microfone, muitos LPs e uma madrugada inteira pela frente. Seria tudo perfeito se não fosse a vontade de fazer xixí. Quatro da manhã, botei um LP de trilha de novela e fui ao banheiro, que sei lá porque ficava do outro lado do elegante prédio. Quando voltei o telefone tocava e do outro lado da linha, um proprietário coruja me demitia por ter abandonado o estúdio da rádio.
Foi ontem que saí as 6 da manhã a pé, do outro lado da cidade, voltando para casa. Demitido e feliz.
Foi ontem que entrei pela primeira vez no estúdio da TV Bandeirantes, também recém inaugurada. Aquela câmera enorme, assim como o VT, o microfone, a luz...
Tudo tão grande e eu tão pequeno com meus 17 anos. Éramos 5 para fazer uma matéria. Hoje basta o repórter e o cinegrafista.
Meu avô Miro também nos deixou ontem, depois de dias doente. Foi nos meus braços, os olhos mais azuis que já vi na vida se fecharam e que bom que hoje, escrevendo aqui eu consiga ainda me emocionar com essa perda.
Depois veio a primeira mulher, a primeira criança - essa uma luz que me salvou de uma vida que se inclinava para o lado errado. Mais jornais, A Crítica, o Diário da Serra, o Jornal do Brasil Central, depois Porto Velho e o Alto Madeira, São Paulo e o Opção.
Mas sabe-se lá porque fiquei anos longe de tudo isso, sendo tudo e ao mesmo tempo sendo nada nem ninguém. Os anos mais tristes da minha vida e, como por encanto, anos que parecem tão distante, parece que jamais os vivi, graças a Deus.
Rio Claro, Campinas, Limeira, Piracibaba, Ribeirão Preto, Campo Grande, Porto Velho, Fortaleza, Rio Branco, Belém.
Aqui me reencontrei com minha profissão. Parece que foi ontem que vendi um apartamentozinho financiado, coisa de 15 mil, e comecei um programa nas madrugadas da TV. Como foi difícil.
Tudo novo, tudo desconhecido, o primeiro programa foi gravado com um microfone de karaokê. A primeira edição demorou uma semana e mostrava nós, felizes, pela baía a bordo do Tribo dos Kaiapós. Engraçado, não parece que foi ontem.
O tempo passou, tantas festas, tantos eventos, tantas entrevistas. Dei o meu melhor, me senti novamente vivo, feliz.
Com o tempo veio o reconhecimento, a grana, os funcionários, a revista, o Diário, os programas de rádio,o blog, os sites.
Hoje posso dizer que Belém me deu muito mais do que eu esperava quando comecei. Belém me deu até um nome novo, sou o Bacana. E ser o Bacana é um patrimônio espetacular, meu e ninguém jamais vai me tirar. Serei o Bacana em que canal estiver, em que emissora for, em que jornal escrever, mesmo que eu pare de trabalhar, assim mesmo serei o Bacana.
Que coisa !

E neste dia primeiro deste ano que começa me sinto cansado.
Não sei como será 2009. Tenho tantos planos, tantos projetos mas talvez eles nem saiam da cabeça. Já fizemos muito para quem esperava apenas trabalhar naquilo que gostava.
Mas sei que isso eu digo agora, quando um ano todo me pesa nos ombros e quando a única coisa que quero é não querer fazer nada.
Daqui a alguns dias vai passar, pelo menos sempre passou, e o formigamento vem, as novidades, as invenções. Nada extraordinário, apenas projetos que me dêem prazer, pois a liberdade que conheci nas rodas da bicicleta me ensinou que o maior compromisso que temos no mundo, é o de fazer o possível para sermos felizes.
Faça o possível para ser feliz você também, vai valer a pena. Um feliz 2009.

5 comentários:

Unknown disse...

Marcelo, desejo pra vc tudo em dobro de seus votos lá no Quinta.
Muito sucesso em 2009.
Abs

Anônimo disse...

A sua história é um referência para pessoas que como eu começaram um empreendimento próprio e tem como ofício fazer o que gosta e como pretensão ter sucesso financeiro. Parabéns pelo seu sucesso e continuo sempre aguardando novos projetos seus, Belém merece e espera por novidades.

ps: ficou faltando apenas tu contares sobre a primeira conta bancária em Belém e do gerente fenomenal que tiveste, rsrsrsrsrsrs.

Tallia disse...

Marcelo,
Leio teu blog sempre! E esse seu texto deu forças, pra essa paulista aqui, que não ve a hora de morar em Belém... forças pra ela seguir procurando emprego, e mudar pra essa cidade que me fará tão bem, tenho ctz, assim como fez pra vc..
Um abraço e feliz 2009.

Anônimo disse...

Emocionante sua história amigo. Sabes que sou seu fã... Não propriamente pelo que fazes, confesso.. Mas como executas.. com retidão, astúcia, zelo e isso é cristalino e admirável. Como diria algum guru desses de plantão, só no dicionário Sucesso vem antes de Trabalho!!! Essa nossa cidade morena com todo seu ar provinciano, é pujante, sabe reconhecer e abraçar aqueles filhos legitímos ou acolidos que a ela promove ou trabalha por uma sociedade $belenense (e daqui a pouco cada vez mais paraense) mais justa, crítica e admirável. Valeu Marcelo. Seu chará.. Marcelo Sarraf Pinho (pitagorasnet.com).

Anônimo disse...

Marcelo. 2009 é o ano. Tu sabes o que te espera sim. Vamos sentar e conversar. Será bom pra você e pra mim também.

Basta você ter a coragem e meter a cara. Retribuir ao povo.

Você sabe do que to falando. Meti na cabeça e agora pra tirar vai ser difícil. Vou fazer a tua também.

Abilio.