O ano era 2002. O microfone, que claro não era um shure nem um Sony pifou e lá tínhamos nós 3 restaurantes para gravar na orla de Icoaraci. Dois deles pagariam 300 reais e um outro um almoço coletivo para a pequena equipe.
Wilsom Silva, amigo meu e incentivador de primeiro hora foi correndo pra casa e de lá trouxe um microfone enorme, todo prateado. Perguntei o que era aquilo e ele disse que era do seu karaokê.
Fazer o que, era tentar com o trambolho na mão ou perder os 600 em 3 prestações e ter de dividir um prato de macarrão - pra mim - com arroz e carne - a parte da Romana minha assistente a muito tempo.
Encaramos o microfone, conseguimos gravar e o resultado foi parar em nossa barriga, uma peixada divina de filhote.
Ainda hoje passo no Carvalhos só para saborear o mesmo peixe. Mais engraçado, já não é tão saboroso.
Vai entender.
*****
Fomos contratados para gravar uma festa em Acará. Lá fomos nós, espremidos em um Ká azul que mais parecia uma kombi. Como sempre uma bagunça no carro, tudo ok até que a alça viária terminou e começou a estrada que liga a Acará.
Poucos km que se tornaram uma andança danada, difícil. Buracos não, verdadeiras crateras, daquelas que o carrinho entrava e parecia que não ia sair.
Chegamos enfim, com o cérebro ainda a balançar por conta daquilo que chamam de estrada.
Fomos direto para a prefeitura e informados que nossa reserva estava feita no hotel tal. Chegando ao hotel e vimos que era um prédio com um restaurante na parte de baixo e os quartos na parte superior, todo de madeira. Amém, tem um lugar pra comer por aqui!
Bom,o meu quarto tinha um ventilador, uma cama e nada mais. Mas onde está banheiro ?
É coletivo me veio falar Neto, o cinegrafista já morrendo de rir.
Desmaiamos todos e quando o celular me acordou fui ao banheiro. Devastação total, um chiqueiro imundo, com todos os excrementos possíveis em um vaso sanitário que parecia ter sido utilizado por todas as bundas de um batalhão da segunda guerra.
Bom, não foi "o" banho mais vá lá. Cheguei no quarto e comecei a trocar de roupa, lá fora um barulhão, depois risadas, depois gritos.
Quando olhei vi que a janela era o menor espaço aberto entre o meu quarto e o campinho de futebol lá em baixo, cheio de moleques que me viram trocar de roupa por fendas enormes nas paredes de madeira.
Fazer o que.
Fomos gravar. Assim se produz farinha de mandioca nos mostrou o assessor. E mostrou como se produzia o seu António, o seu Pedro, o seu Orlando e outros e mais outros e mais outros.
Puto chamei o produtor e perguntei o que mais iríamos gravar, aquilo ali não dava meio programa
- É só patrão,foi a resposta.
Voltamos acabados, empacotamos e no outro dia, no café da manhã que tinha galinhas subindo nas mesas o iluminador me disse; - Patrão, peguei uma menina ontem, aquela filha do seu Orlando e quando estávamos lá no bem bom comecei a escutar uns gritos, uns vai fundo, uns é isso aí, uns dá-lhe.
Bom, a garotada do campinho se divertiu mesmo naquela noite.
Ah, sei lá porque nunca dormi em um colchão melhor em minha vida que o de Acará. Vai entender.
*****
Nunca,jamais em toda a minha vida tomei um chá de cadeira como esse. Começo de programa, aquela dureza e na TV dá-lhe propaganda do Governo.
Tentei por mais de mês marcar com a agência que atendia a conta uma reunião. Consegui depois de muito choro.
Cheguei uma hora antes para não perder a vaga, vai saber.
E passa uma hora, passa duas horas, passa três horas do horário marcado, e toma café, água, toma mais café e mais água e um pouco mais de água com café e finalmente me levam para a sala do patrão.
Ele chega, pede desculpas e eu começo logo a falar sobre o programa. Falo pouco, dois minutos se muito e o telefone dele toca, mais dez quinze minutos de papo e ele sai da sala e passa outros tantos fora e depois volta.
E eu começo novamente, um minutinho, dois, quando vai chegar o três ele sai novamente chamado por uma secretária.
Na mesa umas PIs. Não aguento e dou uma espiada. Mais de 50 mil por um trabalho em uma produtora, outros 25 por outra, mais 33 em outra e escuto um barulho.
É o publicitário retornando, vou meter a faca !
Nada, é a secretária, o publicitário tinha sido chamado pelo secretário de governo tal e não poderia me atender, teve de sair, era urgente, depois me ligava, mil desculpas, que coisa chata, amanhã no máximo nos encontraríamos.
Até hoje.
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