A imprensa não inventa, mas tergiversa, o que publica sobre José Sarney: escolheu-o, por presidir o Senado, para revelar as alcovas geladas da instituição.
Como não se pode pregar a extinção do Senado prega-se a extinção de José Sarney. Espera-se, talvez, para acreditar que a articulação jornalística é patriótica, que o próximo que lhe tomar o lugar, se não o bigode, as barbas de molho ponha.
Como não é prudente se empreitar uma caça às bruxas no Senado – e lá não há fadas – pois isto abaçanaria o foco sobre o objetivo principal, opta-se pela anciã, e eficaz, fórmula de mirar em um só devedor para purgar a mora.
Como dificilmente algum mortal resiste a uma bateria de manchetes pejorativas e diárias por mais de seis meses, o Presidente Sarney deverá fazer a sua escolha: ou renuncia ou enfrenta a falange que se providenciou para apear-lhe.
Nas duas hipóteses está o seu canto de cisne por ter cometido a inconveniência de se dispor a presidir o Senado por mais uma vez: verdadeiro domicílio do seu equívoco.
O Presidente Lula, que em soslaio ao apoio do PMDB a candidatura da Ministra Rousseff, ensaiou expressivo suporte à lide de Sarney contra as forças que se articularam contra ele, dá sinais de retirada, tangido por pesquisa de opinião pública que pousou em sua mesa esta semana.
A pesquisa aconselha que Lula abandone Sarney pelo mesmo motivo que intentou dar-lhe sustento: a candidatura de Dilma Rousseff.
A política sempre será um jogo bruto de interesses. Até mesmo quando se pode pensar em crer que há redenção, basta um olhar no buraco da fechadura para enxergar que o intestino da cena gere o mesmo câncer que se deseja extirpar.
Fazer o quê? Não precisa a República, vez por outra, dar uma satisfação à sociedade sobre aqueles que a manipulam?
Como a República não deve cometer chacinas, escolhe um condestável para jogar às feras: com isto demonstra que ninguém deve ultrapassar o tênue limite que separa a impetuosidade política da ousadia tridimensional.
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