14 de jul. de 2011

Tenor paraense se apresenta em NY

Foi tudo muito rápido. Na tarde de domingo, em NY, a diretora artística adjunta do Metropolitan Opera House, Sarah Billinghurst, foi informada de que o tenor Dimitri Pittas, que se apresentaria na segunda em recital no Central Park, não estava se sentindo bem e talvez precisasse ser substituído. Pouco depois, do outro lado da cidade, no Harlem, um tenor brasileiro de 25 anos receberia uma ligação de seu empresário, Bruce Zemsky: "Nada está certo. Mas fique preparado". Na manhã de segunda, o telefonema final. "Pittas cancelou. Você vai cantar hoje."

Nascido em Belém, Atala Ayan está em NY desde 2009, participando de programa de formação de jovens artistas promovido pelo Metropolitan, mais importante casa de ópera da atualidade. Na semana que vem, volta ao Brasil, onde canta Romeu e Julieta, no Teatro São Pedro; em seguida, parte para Stuttgart, onde assinou contrato de três temporadas. Mas o acaso quis que, antes de deixar NY, ele fizesse sua estreia com a companhia do Met.

"No fundo, acho até bom que tenha sido rápido", disse ele, pouco depois da estreia. "Se fosse algo mais planejado, a ansiedade seria muito grande! Simplesmente não deu tempo de ficar nervoso. Só tentei descansar. E, hoje de manhã, depois da confirmação, foi uma correria, acertar os detalhes do programa, ensaiar." Zemsky, que é empresário de alguns dos principais nomes do canto atual, como o tenor Jonas Kauffmann e a soprano Marina Poplovskaya, comemorava. "Essa é uma boa maneira de fazer a estreia, em um recital com piano, ao ar livre, para um grande público. Foi uma noite especial para todos nós."

Ayan começou a estudar canto em 2002, no Conservatório Carlos Gomes, em Belém. Um ano depois, já ganhava seu primeiro prêmio, no Concurso Internacional de Canto Bidu Sayão. Nos anos seguintes, fez as primeiras participações em montagens pelo Brasil, em especial no Municipal do Rio e no Teatro da Paz. Foi ouvido, então, por Zemsky, que encantado com sua voz, abriu portas para que ele fosse para a Europa.

Na Itália, cantou em La Rondine; em Trieste, foi Rinuccio, em Gianni Schicchi; na Grécia, Rodolfo, em La Bohème. Em SP fez o papel do Tenor Italiano em O Cavaleiro da Rosa, de Strauss, com a Osesp regida por Richard Armstrong. Caiu nas graças do diretor artístico do MET, James Levine, o que lhe garantiu acesso ao concorrido Lindemann Young Artists Development Program do Metropolitan, onde passou os últimos dois anos.

"Será bom ir para Stuttgart e ter uma casa, um porto depois de anos se dividindo entre Brasil, EUA e Europa", diz Ayan, ainda impactado pela emoção da estreia. "É tanta sorte que mal acredito. Já devia estar em São Paulo para os ensaios do Romeu e Julieta, mas, não sei por que, pedi uma semana a mais para me preparar e por conta disso fiquei em Nova York. Além disso, por acaso tenho o mesmo tipo de voz do tenor que precisou ser substituído, o que permitiu que eu pudesse manter a maior parte do programa já preparado."

Ao lado da soprano Angela Meade e da meio-soprano Jennifer Johnson Cano, ele interpretou árias e duetos de Gounod, Verdi e Puccini. "É muita coisa para absorver, mas estou contente. E só consigo pensar que nasci nas bordas de Belém e agora estou aqui, no Metropolitan."

Fonte: Estado de São Paulo

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