Uma vez eu estava em uma pousada em Canela, na Serra Gaúcha tomando café da manhã.
Uma dessas pousadas que hoje chamam de pousada de luxo, mas que na verdade é uma pousada cheia de um estilo interiorano, decorada com capricho e sem nenhuma ostentação, com um clima familiar e acolhedor.
Aí, falante que só, puxei conversa com a dona da pousada Doce Canelai ? Acho que esse era o nome dela, uma catarinense, sempre vestida de roupas claras, sorriso fácil, sotaque marcante, lá pelos seus sessenta anos.
- Quanto tempo tem a pousada ?
- Dois anos.
- Mais só?
- É, somos de Santa Catarina.
- E como vieram parar aqui ?
- Eu passei minha lua de mel aqui, vim muitas vezes durante os anos. Lá no interior do nosso estado eu e meu marido tínhamos uma empresa que prestava serviço para uma multinacional, toda arrumada, com uma bela sede, que dava um bom dinheiro, tínhamos um apartamento muito bom, grande, mas eu não aguentava mais aquela vida.
- Que vida ?
- Fazia tempo não tínhamos tranquilidade, problemas todo dia, uma pressão terrível, stress absurdo. Daí a alguns anos comecei a planejar mudar de vida, vir pra cá. Eu não podia parar de trabalhar, então comecei a visitar mais Canela, até que achei essa casa, estava abandonada, achei o comprador e um dia contei ao meu marido que iria comprá-lá.
- E aí?
- Ele não acreditou mas um dia acordamos e eu lhe disse que minhas coisas estavam no carro. Eu peguei ele de surpresa, no fundo eu já havia dito milhões de vezes que queria mudar de vida, ter uma vida mais tranquila, ele coitado, escutava mas entrava por um ouvido e saia por outro, a correria da empresa estava acabando comigo e mais com ele.
- E então?
- Então ele veio meio que não acreditando. Quando chegamos na casa e eu fui falar com o corretor é que caiu a ficha dele.
- Mas foi assim, rápido?
- Não, nada foi rápido, fui planejando, arrumando as coisas, quando ele viu eu já tinha armado a armadilha. E aí ele perguntou se era verdade, como ficaria a firma ?
- E como foi ?
- Eu disse pra ele que tinha chego ao meu limite, que aquela vida não era mais pra mim, pra gente, que dinheiro era importante sim, mas eu não queria mais ser refém do dinheiro, que eu queria qualidade de vida, dormir uma noite inteira sem acordar, viver em paz e que se ele quisesse que fosse para a firma dele.
- Não acredito.
- Foi sim, e depois de um tempo sem saber o que fazer, ele foi e vendeu a firma, veio pra cá comigo e de executivo virou jardineiro, pedreiro, atendente, piscineiro, administrador.
- Tu recomeçou a vida com mais de sessenta anos ?
- Olha, eu adoro esse lugar, aqui tem gente diferente todo dia, aqui eu moro, cuido de tudo, dos detalhes, trato com amor, paramos de tomar remédios, tudo mudou. Claro que no começo, principalmente para ele foi difícil, mas hoje nossa vida tem um ritmo conforme o ritmo do calendário da cidade, do país, as vezes mais corrida, as vezes mais calma, mas muito mais gratificante.
- Que mulher decidida.
- Taí, isso eu sou mesmo. A gente sempre pode fazer um novo começo para chegar a um meio melhor e um fim como queremos.
E somos felizes.
2 comentários:
Posso garantir que a mulher não falou:
"eu já tinha armado a armadilha"
Que coisa horrível.
Ea ainda proclama no site
--Política, Cultura, ...
Oô, Bacana! Tu és por fora na língua e, por isso, não tens condições de escrever para um Blog que se preze.
Meu caro anônimo... acue uma mulher e verás do que ela é capaz. E nunca mais deixe de assinar um post, isso é falta de personalidade.
Postar um comentário