17 de abr. de 2011

Descanse em paz, Dr Hélio; por Barata


Dos mortos só se fala para dizer o bem. A lembrança dessa máxima ecoa, fatalmente eloqüente, diante da morte nesta sexta-feira, 15, aos 85 anos, de Hélio Gueiros (foto), ex-governador do Estado e ex-prefeito de Belém, mas também advogado e jornalista, que foi, ao mesmo tempo, protagonista e testemunha privilegiada da história recente do Pará. Gueiros foi sobretudo um personagem polêmico, desses que habitualmente não comportam meio termo – ou se ama, ou se odeia. Jamais, porém, suscitou a indiferença, seja como político, seja como jornalista.
Com um perfil autocrático e um parco coeficiente de tolerância, doutor Hélio, como costumava ser tratado o ex-governador, que também ficou conhecido como Papudinho, em alusão a suas inclinações etílicas, era originário do PSD, o Partido Social Democrático, com peculiaridades próprias que feneceram com o golpe militar de 1º de abril de 1964 e a camisa de força do bipartidatismo, imposto pela quartelada. A nova versão da legenda, ressuscitada com a redemocratização, não tem nada em comum com o PSD que marcou uma importante passagem da história política do Brasil, que vai do Estado Novo até 1964. No Pará, até 1964, a legenda se confundiu com o baratismo, a vertente política que floresceu sob a liderança do ex-governador Magalhães Barata, um caudilho que, como tal, exibia um perfil autoritário, frequentemente ultrapassando o limite da truculência, mas também populista e que revolucionou os paradigmas do exercício do poder. Barata introduziu no Pará o governo itinerante e abriu espaço para os desvalidos, ao instituir as audiências públicas, quando abria as portas do Palácio Lauro Sodré, então sede do governo estadual, aos humildes.
Para o bem ou para o mal, Gueiros interiorizou as idiossincrasias do baratismo. Na política foi implacável com seus eventuais adversários, aos quais acabava por tratar como se fossem inimigos figadais, ainda que para mais tarde com eles se reconciliar, ao sabor de suas conveniências políticas, como se deu com os Maiorana e com o ex-governador Jader Barbalho, o morubixaba do PMDB no Pará. No trato pessoal, porém, revelava-se habitualmente sedutor, na esteira de uma verve impagável, que turbinava a sua célebre irreverência e dele fazia uma figura algo histriônica.
Neste momento, até em respeito à dor da família e à memória de Gueiros, cabe sobrepor o homem ao personagem da história. Não faltará oportunidade para fazermos uma retrospectiva da trajetória de Gueiros como figura pública, sob uma perspectiva histórica. O que ele abominava, sempre que a releitura do passado embutia revelações que lhe fossem desconfortáveis.
Com minhas condolências à família, o meu mais sincero desejo, neste momento de adeus – descanse em paz, doutor Hélio.

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